domingo, 27 de janeiro de 2008

Eu encontrei

Eu encontrei

A pessoa certa...
Para rir de coisas bobas.
Para falar de coisas sérias.
Para me ouvir falar de qualquer coisa
Mesmo que, às vezes, nem me entenda.

Eu encontrei a pessoa certa pra mim.

Para rir no metrô.
Para ficar de mãos dadas olhando um quadro abstrato.
Para adorar os quadros do Pedro Alexandrino.
Para pensar sobre a existência de tantos quadros com título “Natureza Morta”.

Eu encontrei a pessoa certa pra mim.

Para dividir um sanduíche de mortadela no mercado público.
Para dançar no meio dos carros e pessoas da Rua 25 de março.
Para rir meio constrangida do gringo de cueca cinza dormindo na sala.
Para rir e adorar uma peça de teatro, mesmo sem entender direito.
Para achar um lugar bom e barato para comer em pleno bairro jardins.

Quem mais chegaria ao fim de um dia desses
Rindo, cansada e dizendo:
_ Que dia ótimo passamos!
Ninguém além da pessoa certa pra mim.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Febre de egoísmo

Febre de egoísmo

Que bela cor para uma febre.
Amarela é cor da esperança.
É a cor do sol, do verão.
Talvez seja por isso que tanta gente vai se vacinar.
Alguns, tão esperançosos, vão mais de uma vez.
A maioria, nem carece estar ali.

Falta aqui.
Falta acolá.
Mas e daí?
A culpa é do governo que alerta, mas num dá.
É mais fácil culpar quem já está doente.
Difícil é colaborar com quem precisa tomar.
A febre é minha e ninguém tasca.

Promessas

Promessas

Sala cheia.
Saco cheio.
Horas e horas de espera.
Horas e horas desperdiçadas.

O que poderia causar tamanho desconforto?
Ganância?
Desorganização?
Descaso?

Não há respostas para tanto sofrimento.
Não há respostas para tantos problemas.
Esse é o caos aéreo.
Não é filho único desse país.
Aqui, o caos é geral.
Sem respostas ou propostas.
Apenas promessas.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

A Loucura

A Loucura

“Apenas a loucura possui a virtude de prolongar a juventude, ainda que muito fugaz, e de retardar a malfadada velhice”

Cem anos antes, a loucura era facilmente percebida.
Hoje, a loucura é quase um predicado humano.
Ela está em tudo e, talvez, em todos.
Mulheres loucas, crianças, velhos, adolescentes e padres.

Os loucos temem forte concorrência.
A loucura, por sua vez, tem apenas dois obstáculos: o medo e a vergonha.
A loucura justifica os bêbados, as prostitutas e os adúlteros.
Aprova os políticos corruptos, os perversos, os profanos,
E tudo mais que a sociedade hipócrita condena.

A loucura está nas casas de família,
Nas famílias que não têm casa.
A loucura é normal se vista de dentro.
Ser louco é uma fuga diária da loucura quotidiana.

A gosto

A gosto

Tem muita coisa que acho um saco.
Acho um saco fila de banco.
Acho um saco qualquer tipo de fila.
Acho um saco acordar cedo.
Acho um saco ter que dormir cedo.
Acho um saco ter que fazer silêncio por causa dos vizinhos.
Também acho um saco quando os vizinhos fazem barulho de manhã.

Minha lista de coisas que acho um saco é interminável.
Falso moralismo.
Qualquer tipo de falsidade, e de moralismo também.
Discursos socialmente corretos.
Aliás, discursos geralmente são mesmo um saco.

Não pense que eu sou um niilista que acha tudo um saco.

Gosto de cheiro de chuva.
Gosto de ver crianças brincando.
Gosto de palhaços fazendo piadas bobas.
Gosto de ver a minha avó, velhinha e cheia de rugas.
Gosto de entrelaçar os dedos nas mãos de alguém que gosto.

Gostar tem gosto de comida de mãe.
De bife suculento com arroz e feijão feito na hora.
Gostar... gostar tem gosto de coisa boa.

Voar

Voar

Que criança nunca sonhou em voar?
Aí elas crescem e ficam com medo de sonhar.
Eu cresci e continuei sonhando.
Os pássaros sempre me encantaram.

Hoje eu vôo.
Sim, hoje eu posso voar.
Quando saio de um avião preso a um pára-quedas.
Ainda melhor, posso voar de muitas outras formas.

Hoje eu vôo através do conhecimento.
Vôo através da literatura,
Vôo andando pelas ruas,
Entrando na vida das pessoas pela imaginação.

Voar... como uma criança quando sonha.
Como um adulto sonhando em voltar a ser criança
Voar acima de todos os problemas do mundo.
Voar acima das guerras e conflitos,
Voar como os pássaros após um dia de chuva de verão.
Voar, apenas voar e ver tudo de cima.

Limpeza da alma

Limpeza da alma

Como você lida com o perdão?
Qual foi a última vez que você baniu do pensamento,
Um desaforo ou um erro alheio?

De tanto tentar perdoar,
Por vezes me pego a pensar o que teria mesmo me feito o malfeitor.
Jorge Amado me ensinou uma forma diferente de lidar com o perdão.

“Tenho horror a hospitais, os frios corredores, as salas de espera, ante-salas da morte, mais ainda a cemitérios onde as flores perdem o viço, não há flor bonita em campo santo. Possuo, no entanto, um cemitério meu, pessoal, eu o construí e inaugurei há alguns anos quando a vida me amadureceu o sentimento. Nele enterro aqueles que matei, ou seja, aqueles que para mim deixaram de existir, morreram: os que um dia tiveram minha estima e a perderam. [...]

[...]
Encontro na rua um desses fantasmas, paro a conversar, escuto, correspondo às frases, às saudações, aos elogios, aceito o abraço, o beijo fraterno de Judas. Sigo adiante, o tipo pensa que mais uma vez me enganou, mal sabe ele que está morto e enterrado” (AMADO, Jorge. p3, 1992).

Ano novo?

Ano novo?

O mesmo ritual.
O mesmo branco.
O mesmo discurso.
As mesmas promessas (que nunca se cumprem).
As mesmas pessoas.
Você mesmo.
Sete ondas, uvas e lentilhas...

Os mesmos problemas.
O mesmo trabalho.
Coisas que se repetem.
Anos que se repetem
O que há de novo este ano?

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Volver

Volver

Há tempos queria estar de volta.
Há tempos estou tão próximo, mas não podia alcançar.
Há tempos eu queria estar de volta.
Os dias foram passando e as palavras vagando.
Enquanto os dias passavam, muitos lugares ficaram para trás.
Lugares que inspiram, e outros que expiram.
Perto ou longe, sempre ao alcance dos olhos.
Eu sempre quis estar de volta.
Eu estou de volta!
De volta ao lar doce lar das palavras.