terça-feira, 15 de maio de 2007

Como se tornar um jornalista feliz

Como se tornar um jornalista feliz

Entre na faculdade certo de que será visto por amigos e parentes como um intelectual. Provavelmente ainda não é, mas vai acabar se tornando por obrigação.

Já no primeiro semestre, tenha absoluta certeza que irá mudar o mundo. Com o tempo vai aprender que é melhor sair de casa, pois nem o seu avô turrão, de 80 anos, conseguirá mudar.

Freqüente muito mais o bar da faculdade do que a sala de aula. Beba muita cerveja. Atenção! Esse talvez seja o melhor conselho deste texto.

Transe, ao menos uma vez, apenas por prazer, sem romantismo ou utopia. Obviamente isso vai virar rotina.

Filie-se ao PT, PCdoB, PSTU, ou qualquer outro partido. Hoje em dia não faz diferença alguma e, cedo ou tarde, vai se decepcionar mesmo.

Faça todos os estágios que lhe oferecerem. Não vão lhe pagar nada e ninguém levará isso em consideração quando for de verdade. Mas é sempre divertido e te deixará bem com os colegas.

Beba muita cerveja e vá a todas as festas que a faculdade fizer. Principalmente as de outros cursos. Destaque para as festas chatas dos futuros administradores. É bem provável que um deles irá mandar em você um dia.

Durante todo o curso, ignore a possibilidade de trabalhar, depois de formado, em qualquer lugar que não seja um jornal diário, televisão ou rádio. Porém, só por precaução, monte um belo mailling com as ricas e respeitadas assessorias de imprensa e as milionárias e adoradas agências de publicidade.

Inscreva trabalhos em todos os concursos para estudantes. Se ganhar, e for homem, irá comer muitas mulheres. Se for mulher, não se iluda, isso não te levará para cama de ninguém que não a sua, e ainda terá que lidar com o habitual machismo que todos conhecemos.

Escolha um tema que acredite muito para sua monografia ou TCC. Além de você, somente seus pais irão acreditar. Não, nem seu orientador irá acreditar por muito tempo. Lembre-se! Ele faz isso todos os anos.

Beba muito na sua formatura. Transe pela última vez apenas por prazer. Isso se já não estiver viciado em sexo sem compromisso.

Acorde no dia seguinte ciente de que deu um passo importante. Já não é mais o futuro do Brasil. Agora é um problema social.

Na faculdade voltamos ao jardim de infância. Nos ensinam a sonhar acordados.
Aqui fora, ainda acordados – isso, inclusive, será uma prática comum, principalmente a noite – descobrimos que a realidade é torpe na mais pura essência da palavra.
Ainda assim, nem pense em desistir. Será inútil tentar.

Continuamos sonhando acordados e, por fim, quase sempre, nos tornamos profissionais pobres, porém, felizes e com muito orgulho de poder contar a história da vida real.

Por favor! Não me acordem.

2 comentários:

Fatima Salomeh disse...

ah,que texto encorajador, principalmente no que tange à cerveja. Eu, repórter de curiosa, jornalista de fuçada, pensando no faço-ou-não-faço um curso de jornalismo, fiquei em lágrimas, pensando (na cerveja e no bares, e) é claro - óbvio - na profissão de jornalista.Acho que vou tentar!!!

Marizoch disse...

Eu adorei, rs. Irei fazer jornalismo, tentarei seguir algum dos pontos... outros vou deixar de lado mesmo. Parabéns pelo blog.
Beijão
Mariana Cardoso